Miqueias já tinha sido condenado a quatro anos de prisão por roubos em casas comerciais da Cidade da Praia. Reincidente no crime, tudo indica que a cadeia não conseguiu a sua regeneração. Pelo contrário, tornou-o mais ousado. Tanto assim é que depois de uma temporada em São Martinho, hospedou-se num hotel no Palmarejo, e de lá partia para executar, ora sozinho ora em grupo, todos os seus planos criminais.
Assaltou os Correios da Cidade Velha, de onde saiu com mais de 800 contos, 16 mil escudos em telefáceis e cartão grilo, 1200 escudos em phone cards, 115 euros e quatro telemóveis. No Centro Comercial Visão, no Sucupira, roubou mais de 50 telemóveis e vários computadores portáteis. No Beramar Multimédia, Fazenda, saqueou vários computadores, perfumes, telemóveis e máquinas fotográficas digitais. Também na Fazenda levou de uma loja 40 telemóveis. Portanto, uma autêntica folha cheia de crimes a deste rapaz de 19 anos.
Já em conivência com os outros cúmplices - Avelino, Adelino e Ivaldir –, Miqueias roubou um Starlet, um Geo Tracker, um Toyota Carina e um Rav4, na Terra Branca e no Palmarejo. Do balanço constam mais dois computadores, onze telemóveis, todos provenientes de vários assaltos a pessoas e casas comerciais. Muitos destes bens foram vendidos a nigerianos e a um tal Eugénio Sanches, “Tchico”, na Assomada. Aliás, Miqueias é conhecido em Santa Catarina também como traficante de drogas.
Da longa lista de bens roubados, a BIC conseguiu recuperar três viaturas, dois computadores, onze telemóveis, duas motos que Miqueias comprou com o dinheiro proveniente da venda dos roubos, duas pistolas (uma Browning e outra de calibre 7,65) e ainda várias peças de roupa e calçados de marca. Na sua posse foi ainda encontrada a chave-mestra que ele utilizava para aceder às viaturas. Contudo, como foram detidos fora de flagrante delito, os quatro vão aguardar o desenrolar do processo em liberdade.
Ainda durante a operação, a BIC identificou três nigerianos, Nwa Obinha, Dinnah Blossed e Augustine Ikwajulan, e um cabo-verdiano, Eugénio Sanches, detidos em flagrante quando vendiam pedras de crack e padjinha na Assomada. Estes supostos traficantes também recebiam produtos roubados por Miqueias.
Entretanto, as investigações prosseguem, visto que não são poucas as viaturas que desaparecem da noite para o dia na capital. A Polícia acredita que nessa rede possam estar envolvidas oficinas de mecânica. Um dos truques utilizados pelos criminosos do ramo passa por desmantelar as viaturas, vendendo peças soltas, quando não são descaracterizadas através de um processo mais sofisticado. Houve ainda casos de viaturas que foram simplesmente deixadas ao abandono por Miqueias, depois de avariarem e não servirem mais para uns passeios bem descontraídos com belas meninas ou para paródias bem regadas. Numa das ocasiões, conduzindo um carro roubado, Miqueias atropelou um transeunte no bairro do Pensamento. Abandonando esse cidadão que feriu gravemente numa perna, o meliante pôs-se em fuga.
Por se tratar de um fenómeno relativamente novo, as autoridades policiais e do Ministério Público dizem não saber ainda quantas viaturas terão sido roubadas e postas fora de circulação nestas condições.