RIBEIRINHA (ARBIRINHA) NA STANCHA D’BOXE – (I)

RIBEIRINHA (ARBIRINHA) NA STANCHA D’BOXE – (I)

 Hoje, creiam, caros leitores, como muitas vezes acontece quando decido escrever minhas crónicas (aqui não falo daquelas que, normalmente, são premeditadas, mastigadas, ponderadas antes de serem produzidas), logo pela manhãzinha quando acordei e fui à casa de banho desencher a bexiga que já estava esticada, e até doía um pouco, de tanta urina acumulada durante as primeiras horas de sono, dei-me comigo a pensar, quase que sonhando acordado, na Ribeirinha, a “Arbirinha” da minha infância, e, até, adolescência, na Vila da Ribeira Brava, em São Nicolau.

E, diga-se, em abono da verdade, que a Arbirinha na Stancha d’ Boxe tem estórias e muitas estórias mesmo. E, estou convicto, todas elas, e cada uma em particular, têm encanto que, indubitavelmente, merecem ser citadas e contadas por todos aqueles que, certamente, o engenho e a arte ajudar.

E vai daí, por julgar não ser totalmente desprovido da sorte e faculdade (uma virtude extraordinária), por um lado, de poder manejar a pena para me exprimir (hoje computador) e, por outro, também, porque gosto, mormente agora que quase sou dono do meu tempo, de partilhar e, muitas vezes, fazer recordar a outras pessoas, colegas ou não, a vida simples, relativamente feliz e livre do assédio e atormento de certos malefícios (ou benefícios) que hoje grassam e invadem o nosso meio e até a nossa intimidade, às vezes perturbando-nos de tal forma que ficamos sem jeito de, numa introspecção normal, corriqueira, que todos temos a obrigação de fazer sobre o percurso ou etapas do percurso da nossa vida, de nunca nos esquecermos de regredir, uma vez ou outra, à nossa infância, ao nosso passado, recordar e reviver os momentos por que passamos, quer tenham sido bons, maravilhosos ou, até…, nem uma coisa, nem outra.

Ora, é exactamente nesse sentido que, nas minhas deambulações nocturnas ou até mesmo diurnas, quando estou a “djongur” numa cadeira, normalmente depois das refeições, qual sonâmbulo encavalgado em montadas pujantes e aladas, ponho-me a revisitar pedra a pedra, beco a beco, pormenor a pormenor, os lugarejos, sítios e locais onde construí, sem responsabilidade atribuída ou exigida por outrem, mas no entanto com todo o cuidado, assertividade e destreza dum mestre, os meus mais emblemáticos castelos de areia. E perdoem-me se quando me refiro a todas essas figuras simbólicas, conforme ficou atrás dito, esteja, à laia duma catarse, a fazer uma expiação tão sublime quanto possível à minha alma, à alma de um cristão crioulo.  

Porém, antes de mais, convém salientar que nos idos anos das décadas de 40-60, Arbirinha na Stancha d’ Boxe, à nascente como a Passagem à entrada da Vila da Ribeira Brava, a poente, foram dois locais de boa memória para a nossa urbe maior e importante da benquista e maravilhosa ilha de São Nicolau ou a Patchêlandia, como gosta de dizer e escrever o amigo médico pediatra e escritor Arsénio de Pina, nos seus vários artigos de opinião e não só e se refere ao berço da sua progenitura.  

No entanto, convém salientar, a razão desta crónica, especificamente urdida para o site do jovem liceal Edson Jorge dos Santos Maximiano – Edson Santos - sobre a ilha de São Nicolau www.sninfor.com (divulguem-no), vamo-nos deter com alguma acuidade sobre Arbirinha, mais precisamente Tanque d’ Arbirinha, a popular e olímpica piscina ao tempo.

A zona d’ Arbirinha fica no lado direito da ex – Praça de Catchor (de quatro pés), contíguo à R’bê d’Mei, no enfiamento da, ao tempo, linda propriedade do Tantchon e a montante da Maiamona, rica propriedade da dona Winy St’Aubyn. No entanto, convém dizer que esta localização, tendo em conta o sentido da orientação dos pontos cardeais ou para alguém que tenha consigo uma bússola, é para todo aquele que se dirige do Terreiro para a Stancha d’ Boxe. E, ainda, esta descrição como está, diz respeito aos idos das décadas de quarenta – sessenta.

Arbirinha, com todos os seus complexos de utilidade pública (no próximo numero referir-nos-emos à sua zona circundante), foi, sem dúvida alguma, um sítio emblemático, que ficou para sempre gravado na memória dos Ribeira-bravenses e não só, como uma recordação muito grata.

Dispunha de componentes tão importantes quão indispensáveis para a vida da Vila, uma vez que do seu seio regurgitava nada mais nada menos que uma inodora, incolor e insípida AGUA, o bem maior e essencial para a existência da vida.

Se não, vejamos:

No sopé do muro de vedação da propriedade do Tantchon, existia, em betão, um bebedouro para os animais das cercas de ao pé-da-casa ou mesmo criados no quintal, dessedentarem. Esses animais (caprinos, asininos, muares, ovinos, bovinos, etc.), muitas vezes considerados “quase componentes” do agregado familiar, tal era a ligação entre si, numa autêntica conspurcação e excêntrica cumplicidade;

Contíguo ao bebedouro existia duas pias, também em betão, cada uma alimentada com água directamente canalizada da nascente, igual ao bebedouro;

Um pouco mais abaixo, fazendo parte já da ribeira por onde passavam as enchentes, havia uma levada onde as mulheres aproveitavam da agua que por ela corria para lavar a roupa e os homens para banhar os seus animais de estimação. Por essa levada corria agua em abundância, normalmente durante o período das chuvas ou até pouco tempo depois mas, na maior parte das vezes, quando o tempo já se fazia alto, mais ou menos lá para os meses de Abril a Julho, não só a agua corria com menos intensidade, como era rateada, de forma proporcional, para ser utilizada para a rega das propriedades cultivadas e que ficavam a jusante. No entanto, pode-se dizer que essa levada fazia parte integrante do tanque e servia para o esvaziamento do mesmo na condução da água para a rega das propriedades;

Já agora, não me lembro bem se partilhando da mesma canalização que alimentava o bebedouro e as pias ou se directamente da nascente, havia uma outra conduta que levava agua para o TANQUE d’ ARBIRINHA, a piscina pública de Stancha de Boxe, a piscina de todos nós, com acesso directo e grátis a qualquer um. Fosse branco ou preto, rico ou pobre, rapaz ou menina, a qualquer hora do dia ou da noite. Aliás, é esse o mote que constitui uma das razões fundamentais para as crónicas que passarei a desenvolver, a partir de agora.

E com o mesmo teor do Tanque d’ Arbirinha havia muitos outros espalhados pelo imenso Vale da Ribeira Brava como por toda a ilha de São Nicolau onde houvesse água a correr ou em quantidade suficiente para tal, como Queimadas, por exemplo.

Espargo, 05/06/2010

VINICULA DOS SANTOS

 

Tópico: RIBEIRINHA (ARBIRINHA) NA STANCHA D’BOXE – (I)

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Isto sim nos alegra

Como e bom recordar a nossa terra com cronicas do tipo mas nos queremos mais mas mesmo assim a SNINFOR esta de parabens

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parabens

parabens SNINFOR por conseguir cronicas que toquem no profundo coração de um saniculauense.

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RIBEIRINHA (ARBIRINHA) NA STANCHA D’BOXE

Parabéns!
Já agora seria interessante e mesmo emociante descrever todo o vale da Ribeira Brava. Pelo menos desde Boca d'Carvon até Arbririnha acompanhado, se possível, de fotografias.
Força com este bonito e árduo desafio. Um abraço fraterno.

Carlos Estêvão

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parabéns SNINFOR

muito boa , recordar a nossa ribeirinha parabéns sninfor continuem sempre !!

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Re:parabéns SNINFOR

Obrigada meu Amigo Vinícula,pelo artigo. Boa "canetada" continua a "lavar-nos" a alma, nós que estamos na diáspora "sem dia di bai" Quando voltares de novo à "carga", não te esqueças de "mencionar" que nos anos 50 quando íamos levar os animais para beber, naqueles bebedouros existiam camarões que saltavam enquanto os animais bebiam. (NÃO ERAM GÓIA-GÓIA).Acho que vinham da R'bêra de P'chéna. Na S'tancha, de que me lembre,´("cóbe" de S.Ninclau de senhoras prendadas em arte de cozinhar e na doçaria), ninguém comia camarão, e, nós as crianças, ninguém os apanhava sequer para brincar, já na Ribeira Prata, onde abundavam, as jovens da nossa idade tinham uma perícia de levantar as pedras e tirá-los, que eram às bandejadas que levavam para casa para assar no brazido e comermos na hora. Saberás/poderás dizer-me p/q é que na Stancha ninguém comia camarão? Um abraço grande daqui da Terra Longe. FICO À ESPERA DE MAIS ...QUERO MAIS...

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