A ILHA DE SÃO NICOLAU PERDEU UM BOM FILHO ANTONIO PEDRO LIVRAMENTO OU, SIMPLESMENTE, TOI SACRISTÃO
António Pedro Livramento, nome de baptismo do popularmente conhecido Toi Sacristão ou Toi Livramento, nascera há 86 anos na Vila da Ribeira Brava - Ilha de São Nicolau.
Normalmente, em homenagens póstumas, é singular verificar-se considerações de enaltecimento que, muitas vezes, extravasam a verdadeira dimensão dos homenageados. No entanto, assevero, com toda a convicção, de que o que vou aqui deixar expresso, sai do fundo do meu ego, de forma espontânea, sentida e, reconhecendo, com toda a sinceridade, aquele que foi um Sanicolauense de gema. Aliás, como diz o mestre nestas andanças da escrita doméstica e não só, o pediatra Arsénio de Pina, ele foi um Patchê de todos os costados.
O Toi Sacristão, na minha óptica, concomitantemente a muitos outros Sanicolauenses, amou a sua ilha São Nicolau, amou a profissão de secretário da igreja que abraçou, amou o seu povo, enfim, amou todos com abnegação, com desenvoltura, com filantropia. Diria que ele amou de forma tão intensa a vida, que a prole deixada é o manifesto da sua vida na terra. E, creiam, não estou a dizer nenhum vitupério. O nosso falecido amigo deixou para cima de dez filhos, machos e fêmeas, dos quais, muitos, são meus amigos pessoais. Como soe dizer-se, ele não brincava no trabalho.
O Sr. Livramento, também, foi um homem de cultura. Mormente nas artes sacras e religiosas, de, pelo menos, um século a esta parte. Ele sabia quase tudo sobre: padres, igrejas, o seminário, o orfanato, etc. Em momentos cruciais, nos livronas de Assentos de Baptismo, ele era o socorro das pessoas, principalmente as menos esclarecidas e informadas, quando precisavam suprir uma falha crassa de um registo de nascimento, inexistente no Registo Civil do Estado.
Certamente não houve quem, na Vila da Ribeira Brava ou arredores, se lembra de não ter ouvido o sino das 6 horas da manhã, todo o santo dia, durante toda a roda do ano? Chovendo, fazendo frio, vento ou sei lá que mais de adverso na natureza, tão certinho como um Big-Ben, lá estava o fiel servidor da Igreja chamando os fiéis cristãos para a missa matinal. Outrossim, para além de sacristão de profissão, organizador e participante das Divinas a Nossa Senhora, de ter sido um dos fundadores do grupo carnavalesco Copacabana, quiçá uma das organizações sociais mais antigas da ilha de São Nicolau, demonstra a sua capacidade de harmonizar e conviver, simultaneamente, com o religioso e o profano.
Toi era amigo de toda a gente. Nutríamos, de forma recíproca, uma amizade particular. Hoje, só lamento não ter sido capaz de explorar, no bom sentido da palavra, o bom conhecimento que tinha das coisas que digam respeito a São Nicolau. Ele era considerado uma autêntica biblioteca sanicolaense. E o acervo dessa biblioteca popular repousa com ele à cova de 7 palmos de fundo.
No entanto, resta um pouco o consolo de saber ele foi consultado por muita gente, de todas as camadas sociais e gabarito intelectual. Não houve padre, bispo ou religioso que fora a São Nicolau e que não tivesse bebido na sabedoria prática, vivencial do Livramento. Este Homem, de cabelo farto na cabeça dividido ao meio, um grosso molhe de chaves (até parecia o São Pedro) dependurado do cinto, sempre com um sorriso na cara, uma covinha em cada uma das bochechas da face, que lhe davam uma graça peculiar, de certeza, nunca disse não a quem quisesse ter informações, esclarecimentos, sobre coisas das nossas igrejas, em São Nicolau.
Este HOMEM, no dia 5 de Março, aos 86 anos de idade, faleceu em sua casa, na Chanzinha, cerca das 5 horas da manhã. E, três dias depois, no dia 8, por volta das 15 horas, o cortejo saía da Chanzinha, para o Cemitério da Tabuga, com paragem, como não podia deixar de ser, na Igreja matriz de Nossa Senhora do Rosário, para os últimos retoques à sua alma, na missa de corpo presente, três padres no altar, de capa e batina, como dizia a minha tia - avó Mantêtê.
Confesso que não tinha entrado naquela igreja havia já algum tempo. Achei-a um pouco diferente do meu tempo de criança. Naturalmente bonita, toda pintada, bancos novos, achei-a diferente, porquanto no tecto da parte principal, reservada aos fiéis comuns, se pode ver desenhada uma grande imagem de Nossa Senhora do Rosário. Apesar de não ser entendido na matéria, pareceu-me um trabalho bem feito.
A igreja estava cheia de gente. Durante o acto solene, um coro de meninas e rapazes, acompanhado por um órgão toante, entoou hinos em louvor ao Senhor. No recinto junto ao altar, próximo do púlpito, pessoas da família do malogrado Toi assistiram à missa. A missa foi prolongada no tempo, pois o Toi Sacristão merecia isso e muito mais. É minha convicção de que, até hoje, ninguém teria feito tanto por aquela igreja quanto esse dedicado Sacristão, nos quase 63 (Sessenta e três) anos de missão.
Durante quase toda a encomendação da sua alma a Deus Pai Todo Poderoso, pelo trio presbiterado, o coro musical não parou. Espalhou sons tonitruantes, agradáveis por aquela ampla sala. Talvez por não ter ouvido há muito arranjos tão cheios e harmoniosos de um órgão, tocados em tom mais grave, deliciei-me com essa execução. Ou talvez, quem sabe, se por estar a magicar a entrada triunfante do Toi Sacristão no Além. Outro facto que me impressionou, pela positiva, foi uma voz feminina, que entoava do púlpito. Era, certamente, a corista principal. Voz nítida, quase tocando as raias de um soprano. Estive a pensar que, se aquela voz fosse educada em outra esfera, poderia, perfeitamente, ser uma excelente executora de coro.
Acabadas que foram as encomendações na missa de corpo presente, as exéquias deixaram a Vila que o Toi Sacristão amou profundamente e rumaram Lombinho arriba. Desta vez o Sr. Padre não parou no “Marcado” nem no Lombinho. Sempre acompanhado pelos dois colegas, em homenagem, consideração e respeito ao Toi Sacristão, ao trabalho e abnegação dedicada à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, o trio presbiterado acompanhou o corpo do defunto até à Tabuga, sua última morada. Este gesto simpático, só dispensado, normalmente, a pessoas importantes ou com boas posses, coube por mérito ao Toi Sacristão. Ainda bem. Ele merecia.
Durante o percurso houve rezas, cânticos e encomendações sem parar, até quando o corpo foi depositado na coava funda, conforme Manuel Maria Barbosa du Bocage, o boémio poeta português do século XVIII, em versos imortais e cito: …Já Bocage não sou! / À cova escura/ Meu estro vai parar desfeito em vento…/ Eu aos céus ultrajei! / O meu tormento/ Leve se torne sempre a terra dura. (…) Bocage
Como em qualquer funeral ou outra cerimónia que seja, não faltaram cavaqueiras de toda a ordem. Aliás, normalmente, nesses actos, há gente que nem sequer presta atenção à praxis e aproveitam a oportunidade para por a conversa em dia. Nem seria de se esperar outra coisa pois, são esses momentos que propiciam pessoas de todos os lados se encontrarem e por isso aproveitam a oportunidade sui generis para mandarem recados, trocarem impressões sobre o ano agrícola, sobre viradas em Porto Lapa, Spedra ou Praia Sgórfe, sobre mortes que, pela graça de Deus, este ano não tem faltado, sobre as chuvas que tardaram ou chegaram cedo, enfim é um verdadeiro palco do teatro quotidiano das gentes das Ilhas.
As últimas homenagens ao Toi Sacristão, prestadas à beira da cova no Cemitério da Tabuga pela esposa, filhos, parentes e Associações desportiva e cultural e, pelo próprio subscritor desta homenagem, foram muito sentidas. E à família enlutada mais, uma vez, meus pêsames.
À laia de reparo, é minha opinião e, quiçá, de muita gente, de que o largo da Tabuga necessita urgente de um parque de estacionamento. E também de um outro cuidado estético. Ao fim ao cabo, é o espaço onde todos nós, um dia, vamos ficar eternamente sepultados.
Sal, 01Abril2010
VINICULA DOS SANTOS
Comentarios
Data | 19-08-2010 |
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De | De Oliveira |
Assunto | Tói sacristão |
Eu conheci esse senhor que toda gente respeitava, desde criança que ouvia falar nele. Não fazia a minima ideia que ele tinha falecido. Sou de São Nicolau mas agora vivo na ilha do Sal .As minhas mais sentidas condolências a familia enlutada e ao povo de São Nicolau
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